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Com personagens desenhados com mão firme, complexos e profundos,
Helena Terra lança luz, com maestria, sobre um recôndito raras vezes
frequentado pela literatura, o das obscuras relações entre os que servem e os que são servidos dentro de uma sociedade desigual e desumana como a brasileira. Se o foco principal é a busca desesperada de Mariana por um leito de hospital para Nena, uma mulher que, “aos treze anos, com um buquezinho de flores na mão e uma trouxinha de pertences”, foi entregue à sua família para cuidar da casa, a narrativa se espraia e se agudiza em retornos e avanços no tempo, nos quais vamos reconhecendo a crônica do próprio país, principalmente a vocação escravocrata que persiste ainda hoje.

 

Mariana tem consciência do lugar privilegiado em que habita, filha de um
médico, Alberto, que ascendeu socialmente, e de Júlia, legítima
representante da aristocracia rural gaúcha, nascida e criada numa cidade do interior, vivendo numa imensa moradia com seus irmãos, tratados ao longo de todo o livro como “os gêmeos” (sem nome, sem identidade própria). Assim, ela evoca o papel basilar de Nena no núcleo doméstico, que acompanha desde a constituição até a completa dissolução: “o que
aconteceu há mais de uma década e antes e, também, depois dessa época, está no presente, como se todos os dias fossem o presente”, constata.

 

Em Os dias de sempre, Helena Terra demonstra, de forma cabal, as
imbricações inevitáveis entre memória pessoal e contexto político, numa
reflexão necessária e urgente – justificando, assim, um lugar de destaque no cenário da literatura contemporânea.


Luiz Ruffato

Escritor

Os dias de sempre

SKU: Em pré-venda
R$ 67,00Preço
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